Quinta-feira, 27 de Agosto de 2009

A Serra espelha-se no Mar,
O Sol brilha e aquece
E a desumanidade permanece,
Nos animais abandonados
Perdidos, maltratados.
Trinta cães no Cimo da Serra
Nove no Portinho da Arrábida,
Abandonados por aqueles
De quem foram, amigos fiéis.
O tempo estava quente,
A Serra brilhava
As cigarras cantavam
O mar enrolava
A areia da praia,
As crianças brincavam.
E eles perdidos
Abandonados
Sem água,
Sem casa,
Sem vida,
Sem comida,
Uivavam…
Num cântico negro
Desesperado!
Eles estão amedrontados
Abandonados,
Formam matilhas
Seguem as trilhas
Vêm à estrada
E esperam aqueles
A quem amavam.
Eles não voltam,
Eles não sabem
E esperam a bênção
De um afago,
A beleza da Serra
Está manchada
Por gente,
Que deixou de ser gente
Quando os abandonaram!
A Serra encanta
O peregrino sequioso,
Ao longe o mar
Toca seu canto doce…
Eu não volto à Serra!
Não posso voltar,
Olhar e nada fazer
E esquecer
E não ver
À minha volta,
O que se vai passar.
E tenho de viver,
Nada posso fazer
Tenho de esquecer!
Mas fica escrito
No vento,
O que acabo de dizer.
Maria Luísa O. M. Adães
Sexta-feira, 21 de Agosto de 2009

Imagem Internet/ Salvador Dalí / Gala
Conheceram-se…
Uma estranha doença
Os juntou,
O prenúncio da morte
Se deitou com eles.
Eles se amaram
No limiar de vida e morte,
Ela aguardou
Que ele se salvasse
E ele se salvou
E se apaixonou
Pela guardiã
Que o acompanhou,
Na luta das horas.
Ele sonhou
Juntar-se a ela,
Amá-la a todo o momento
Não mais se separar dela,
Mas foi um sonho
Que não se realizou.
Ela tinha nascido
Vinte anos mais cedo,
Ele tinha nascido
Vinte anos mais tarde.
E lembrando essa diferença
Se separaram,
Por vontade dela.
E se fosse ao contrário,
Se ele tivesse nascido
Vinte anos mais cedo
E ela tivesse nascido
Vinte anos mais tarde?
Como teria sido?
Penso que se teriam amado
Com paixão,
Concretizado os sonhos,
Os desejos,
O fogo teria brotado
De seus beijos
E da união de seus corpos.
A idade
Não contava,
Não comandava
Seus desejos,
Mas contou
E afastou!...
Ela tinha nascido
Vinte anos mais cedo,
Ele tinha nascido
Vinte anos mais tarde.
Os anos passaram,
Ele envelheceu mais tarde
Ela envelheceu mais cedo
E morreu…
Ele ficou e chorou
Seu pranto,
Por um amor
Que não se concretizou.
Ela tinha nascido
Vinte anos mais cedo,
Ele tinha nascido
Vinte anos mais tarde.
Por essa razão
Se separaram,
O tempo matou,
O fogo da paixão acabou
E apenas se encontraram,
Quando ela morreu
E a saudade ficou!...
Maria Luísa O. M. Adães
Domingo, 9 de Agosto de 2009

Imagem Internet/ Salvador Dali
Estás em tudo que nasce
E também em tudo que morre!
Tu vens!
As janelas estão gradeadas
Entra o Sol e a Luz,
Mas não entra o Mundo
Que palpita lá fora
Chamando por nós.
Mundo,
Não te posso responder
Estou aprisionada
Dentro de mim.
Quero fugir
Gritar bem alto,
A saudade que me fere
A saudade do teu canto
A saudade dos teus beijos
A saudade dos teus passos
A saudade da minha Vida.
Perdida neste lugar
Que não me pertence
Não me encanta,
Com o desejo de fugir
Para outros lugares
E voltar sempre
Ao primeiro lugar…
E isso - desencanta!
Isolada do meu mundo
Das coisas que perdi
E das outras que encontrei,
Tão próximo de mim.
É um mundo
Sem música, sem beleza
Em múltiplos horizontes
Onde não posso andar,
Num confronto
De dois mundos desiguais…
O meu e o teu!
E eu continuo a fugir
Ninguém me pode dizer
O que fazer,
Eu não aceito!
Apenas aceito,
A minha forma
De viver!...
Maria Luísa O. M. Adães
Terça-feira, 4 de Agosto de 2009
Imagem Internet / Salvador Dalí/ To make love!
Amo o cântico dos bosques
No raiar das manhãs
Plenas do silêncio
Da ardência da noite.
Não gosto de Cidades
Turbulentas,
Corridas,
Desiguais,
A ignorar a tormenta.
Gosto do Amor,
Do seu simbolismo
E da realidade humana
De se dar.
Gosto de acordar
Na cama que conheço,
Onde jogo meus jogos
De amor
E onde esqueço,
O clamor de multidões
Profanas.
Gosto em alguns dias
Não gosto em outros dias.
Nem sempre sou igual
Ao que me pedem
Para eu ser,
Mas como posso ser
Como querem,
Se calcam aos pés
Meus sonhos de quimera?
Vem meu amor!
Ama-me como tu sabes
E esse amar me dá,
O fogo e o anseio
De te desejar.
Não entendes e enalteces
Este dizer?...
Que triste, meu amor,
Viveres com alguém
Sensível a tudo
E não a conheceres
E ela também
Não se conhece,
Não sabe quem é.
Ela vai ser infeliz
Até final de seus dias,
Mas que fazer
Se o mundo é tão mau,
Para os que pretendem
Viver a seu modo
E não o podem fazer!...
Maria Luísa O. M. Adães